A alma renovada

“Se voltares, ó Israel, diz o SENHOR, volta para mim; se removeres as tuas abominações de diante de mim, não mais andarás vagueando; se jurares pela vida pela vida do SENHOR, em verdade, em juízo e em justiça, então, nele serão benditas as nações e nele glorificarão.” [Jr. 4.1-2].

Na conversão da vida de Deus, nós exigimos uma transformação não apenas em obras externas, mas na própria alma, e essa transformação só é capaz de ocorrer após haver a abdicação dos velhos hábitos para gerar frutos harmonizados à sua renovação. O profeta, visando expressar isso, ordena àqueles a quem chama ao arrependimento que criem “…coração novo e espírito novo…” [Ez. 18.31]. Moisés, em diversas ocasiões, quando desejava demonstrar como os israelitas deveriam arrepender-se e voltar-se ao Senhor, dizia-lhes que deviam fazê-lo de todo o coração e toda a alma (um modo de expressão de frequência recorrente nos profetas), e, por utilizar essa expressão em relação à emancipação do coração, aponta para afeições interiores.

Mas não há passagem melhor adequada para ensinar-nos a natureza genuína do arrependimento do que a seguinte: “Se voltares, ó Israel, diz o SENHOR, volta para mim […]. Lavrai para vós outros campo novo e não semeeis entre espinhos. Circundai-vos para o SENHOR, circuncidai o vosso coração…” [Jr. 4.1-4]. Veja como ele lhes declara que não será de utilidade alguma iniciar a observância da justiça a menos que a impiedade tenha sido ante de tudo erradicada do mais íntimo de seu coração. E para causar mais impressão, ele os relembra de que pertencem a Deus e nada poderão ganhar com dolo porque o Senhor odeia o coração dobre.

Por essa razão, Isaías escarnece das estapafúrdias tentativas dos hipócritas que zelosamente visavam o arrependimento externo pela observância de cerimônias, entretanto não se importavam com o seguinte: “… que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo” [Is. 58.6]. Nessas palavras ele demonstra admiravelmente em que consistem os atos de sincero arrependimento.

João Calvino

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